O Bogotazo e a luta do povo colombiano
Há 69 anos Bogotá iniciava um dos conflitos de maior duração na história da América Latina.
Exatos 69 anos atrás Bogotá vivia um momento daqueles que marcam para sempre a história de um país: o BOGOTAZO.
Por Thiago Ávila, consultor internacional e militante do Subverta.
O ano era 1948, apenas três após o fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar de um passado intenso de guerras, naquele momento a Colômbia vivia em uma rara e relativa estabilidade política. Os conservadores estavam no poder, enquanto liberais e comunistas cresciam na oposição democrática. Entre estes opositores estava o carismático advogado Jorge Eliécer Gaitán, que liderava com folga as intenções de voto para a eleição presidencial na Colômbia.
O debate eleitoral se dava em torno da participação política, a reforma agrária e a soberania do país diante de grandes potências imperialistas (principalmente os Estados Unidos). Gaitán defendia a maior parte destas bandeiras progressistas e conseguiu relativa unidade entre os setores de oposição aos conservadores, que viam o advogado como a principal ameaça para a manutenção de seu poder.
No dia 9 de abril de 1948, durante um comício no centro de Bogotá, Gaitán é assassinado a tiros e o conflito armado se inicia. Nesse dia houve grandes levantes na capital, com saques e milhares de mortos entre liberais, conservadores e comunistas. Os policiais, de início, tentaram controlar a situação, disparando contra os manifestantes a pedido do presidente conservador, mas logo muitos se uniram também à revolta, que deixou a cidade em chamas.
Muito se diz sobre este dia especificamente. As tomadas de assalto de prédios públicos, as deserções heróicas de soldados para o lado da população em fúria e até a presença de Fidel Castro, que estava de passagem pelo país para organizar um congresso latinoamericano de estudantes de direito e acabou pegando em armas pela primeira vez na vida, tornam o Bogotazo um dos episódios mais intrigantes na história de nossa América Latina.
Os cinco anos seguintes foram de intensos conflitos entre o governo conservador contra as guerrilhas liberais e comunistas, ceifando mais de 300 mil vidas. Esse período ficou conhecido como La Violencia.
Em 1953, com caos institucional instalado e agravado pelo golpe de Estado do general conservador Rojas Pinilla, os liberais fazem um acordo e passam a se revezar no poder com os conservadores, abandonando os comunistas (agora perseguidos por ambos os lados). Acuados, os guerrilheiros comunistas vão para o interior, onde começam a organizar camponeses em grandes extensões, chamadas pejorativamente pelo governo e pelos Estados Unidos de “repúblicas independentes”.
O governo colombiano nunca parou de ameaçar e agredir essas regiões camponesas e, apesar das denúncias da comunidade internacional, inclusive pessoas como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Apesar dos apelos, em 1964 (mesmo ano do golpe cívico militar no Brasil), o governo colombiano parte com 5000 soldados para invadir e massacrar a população do vilarejo de Marquetalia. Esse ataque já é coordenado pelos Estados Unidos e faz parte da doutrina de Segurança Nacional que o imperialismo passa a adotar em nosso continente, que tem no golpe brasileiro mais uma de suas faces.
Naquele ataque eram 5000 soldados contra 48 camponeses armados com foices, facões e algumas espingardas. O que se esperava era um verdadeiro massacre. No entanto, apesar de tamanha desigualdade numérica, os 48 camponeses conseguiram romper o cerco do exército e continuam a luta nas montanhas da Colômbia, recebendo apoio da população local e iniciando, assim, o movimento guerrilheiro que permaneceu em atividade por mais tempo no século XX em todo o mundo: as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo).
Que a história sirva como arma para desmentir aqueles que dizem que o povo é violento. O povo colombiano só queria paz com justiça social todo esse tempo e, ao longo dos últimos 69 anos, vem sendo recebido com sangue e fogo por parte dos governos colombianos com apoio dos Estados Unidos.
No último ano foram firmados os acordos de paz através de uma mediação que contou com um grande apoio de Cuba e sopra novamente a esperança da construção de uma sociedade mais justa socialmente e que traga a maior dose de felicidade possível a todas e todos.
Que este dia de hoje nos lembre da riqueza de nossa história e que não deixemos que escondam a coragem e lições de nosso continente.
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