PSOL e as eleições 2018: um programa radicalizado, uma candidatura coletiva e ecossocialista para mudar o Brasil
Com o anúncio de que o deputado federal Chico Alencar concorrerá ao Senado, abre-se novamente o debate sobre a candidatura presidencial para a oposição de esquerda no país
Mais de um ano após o golpe jurídico-midiático-parlamentar que levou o Brasil para uma crise generalizada econômica, social, ambiental, política e institucional sem precedentes, ainda existe um cenário de grande indefinição com relação às eleições presidenciais de 2018. Enquanto setores da direita brigam entre si para disputar quem representaria melhor a agenda do liberalismo econômico e do conservadorismo moral, e a esquerda que se referencia no PT se engaja plenamente na campanha de Lula (ou um possível sucessor em caso de sua inelegibilidade ou prisão), os setores da esquerda independente do lulismo ainda patinam na definição dos nomes que representariam este terceiro campo de disputa da sociedade.
Os debates se dão em um contexto importante no mundo: há um avanço evidente do conservadorismo nos espaços de poder institucionais a partir de eleições como nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Bélgica e outros países. Ao mesmo tempo, vimos no mundo um crescimento em alcance das ideias radicais de esquerda, expressas nas campanhas de Bernie Sanders (Estados Unidos), Mélenchon (França) e Jeremy Corbyn (Reino Unido). Em um cenário de caos geopolítico e a soma de todas as crises, vimos que a esquerda cresceu onde radicalizou seu programa e se diferenciou das posturas de centro e de reformas do establishment.
A consolidação deste terceiro campo de força, à esquerda, que faça uma polarização real com a direita reacionária e com os setores neodesenvolvimentistas, é uma tarefa na qual a esquerda mais radicalizada está empenhada há alguns anos. Em oposição aos governos petistas nas mais diversas pautas, nos processos de junho de 2013, nas lutas contra as violações da Copa do Mundo, dos megaeventos e de grandes empreendimentos destruidores da natureza, como Belo Monte, nos esforços para fazer reformas populares no Brasil, no enfrentamento ao golpe e às reformas anti-povo; esse terceiro campo cumpriu um papel chave que culminou na Greve Geral de abril e no Ocupa Brasília de maio deste ano (que contou com outros setores em frente única). No entanto, após deixarem as ruas os setores da burocracia sindical (depois de acordo com Temer) e os setores lulopetistas (para focar na defesa de Lula e na campanha presidencial), o terceiro campo à esquerda, que hoje gravita em torno da Frente Povo Sem Medo e da Frente de Esquerda Socialista, também encontrou grandes dificuldade em seguir mobilizando os amplos setores sociais em conflito com as medidas do governo, tanto pelas derrotas sucessivas que vinham acontecendo, como pela grande dificuldade para criar unidade de ação nas mínimas tarefas que não fossem suas pautas específicas de movimentos, coletivos, partidos e sindicatos.
O PSOL, que é o único partido deste terceiro campo com representação no parlamento nacional, em pleno processo congressual, tampouco conseguiu a unidade necessária para apresentar um nome à disputa presidencial. A indicação de Chico Alencar, que cumpre um papel fundamental enquanto parlamentar, foi colocada como a melhor alternativa para o partido no sentido de unificar as forças internas e reduzir os danos do atraso em lançar um nome para esta disputa eleitoral, que já é amplamente debatida pela população brasileira. Com a definição de Chico para o Senado, o PSOL volta a discutir, junto com os demais setores deste terceiro campo, quais são as alternativas e qual o papel dos socialistas nas eleições do próximo ano.
Nós do Subverta – coletivo ecossocialista e libertário, acreditamos que para esta definição é necessário pensar estrategicamente e evitar erros comuns nestes momentos de decisão. Um problema recorrente na relação com a institucionalidade é o personalismo das figuras públicas, que em alguns casos levou estas a um descolamento entre sua atuação individual e a síntese do programa partidário e das lutas da base social representada naquele processo. Por isso, acreditamos que nestas eleições é necessário o terceiro campo se apresentar de uma forma diferenciada, com uma chapa presidencial representando um programa-movimento radicalizado e, uma vez que o PSOL hoje é o instrumento capaz de vocalizar eleitoralmente a plataforma deste terceiro campo, é também de suma importância que essa candidatura expresse a síntese do acúmulo e da construção partidária histórica, mesmo que seja composta por figuras recém-ingressas no partido.
Entendemos que a participação do PSOL nas eleições presidenciais não pode se furtar de fazer o debate mais urgente de nosso século: o desastre ambiental planetário que eleva a luta de classes e a destruição do capitalismo e do patriarcado ao patamar da urgência da construção do ecossocialismo frente à iminência da extinção da vida na Terra tal qual a conhecemos hoje. Acreditamos que não é mais possível que uma chapa presidencial não contemple esta necessidade e, para isso, acreditamos que a ousadia de ter uma camarada mulher, indígena, nordestina e ecossocialista, como a companheira Sônia Guajajara, nesta chapa presidencial, é muito importante. No entanto, uma vez que a companheira também considera outras opções, para garantir a centralidade do debate de gênero e da luta anti-opressões, caso Sônia opte por outro caminho, acreditamos ser importante apostar em fortes candidaturas do feminismo negro como Áurea Carolina, Talíria Petrone ou Marielle Franco, como possíveis nomes para compor a chapa presidencial.
O outro nome que poderia compor a chapa presidencial junto com uma das companheiras mencionadas acima parece o de maior polêmica em nosso terceiro campo. Vemos a importância da radicalização no discurso (como parte da análise de conjuntura inclusive mundial) e de uma forte diferenciação com o petismo, que terá Lula como candidato ou principal cabo eleitoral (e só não percorrerá o Brasil em campanha se estiver preso). Também consideramos que, embora o PSOL tenha uma postura acertada de abrir-se a filiações democráticas por considerar o sistema político injusto, uma candidatura majoritária precisa ser a expressão e a síntese do acúmulo histórico do partido. Isso nos estimula a pensar nomes como o camarada deputado Renato Roseno, por exemplo, que consegue inspirar as pessoas com seus debates, se dedica cotidianamente à construção do partido e consegue defender nosso programa em sua totalidade e com maestria (inclusive dando um forte apoio ao debate de opressões e ecossocialismo, encabeçados pela outra camarada na chapa).
Um debate que se faz também urgente realizar dentro do PSOL e nos marcos do terceiro campo é acerca da possibilidade do camarada Guilherme Boulos, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), se juntar à chapa presidencial pelo PSOL imediatamente ou em um segundo momento do próximo ano. Nós do Subverta, cuja militância se comprometeu ativamente na construção do movimento por moradia na última década, fazendo trabalho de base, construindo ocupações permanentes e temporárias, construindo marchas e as frentes que buscaram consolidar o terceiro campo (Frente pelas Reformas Populares e a Frente Povo Sem Medo) possuímos uma relação de confiança grande com o movimento e sua coordenação nacional. Reconhecemos que o camarada Guilherme Boulos é hoje provavelmente a figura de maior projeção na esquerda brasileira e que possui muitos méritos tanto pelos enfrentamentos que fez às violações dos megaeventos e megaprojetos, como na pauta da moradia e Direito à Cidade, se posicionando de forma combativa e independente dos governos petistas enquanto eles detinham o governo e executavam um projeto cada vez mais repleto de retrocessos, que culminaram no golpe. Por este motivo, avaliamos como positiva a sua indicação para compor a chapa presidencial, com os cuidados relevantes de que essa possível candidatura represente um programa à esquerda e se comprometa com os princípios e a defesa do Partido (para além dos marcos de uma simples filiação democrática, ou seja, alguém que passe a construir e defender o partido em seu cotidiano), construindo uma diferenciação nítida em relação ao petismo, para representar o terceiro campo nesta disputa. Este é um debate que desejamos fazer fraternalmente no PSOL, no campo da esquerda e com o próprio MTST e o camarada Guilherme Boulos.
Estamos também cientes da pré-candidatura do camarada Nildo Ouriques, com o qual temos muitos acordos programáticos e avaliamos relevante mencionar neste momento. Acreditamos que o camarada é uma grande figura para a esquerda, possui o tom adequado de diferenciação do lulopetismo, possui um grande potencial e, a medida em que vá se aproximando da construção cotidiana do partido (inclusive das setoriais de opressões e ecossocialista) e do conjunto da militância do PSOL e do terceiro campo, poderá vir a ser um excelente nome para nos representar no futuro.
Consideramos que é, sim, necessário, lançar-se à disputa presidencial o quanto antes. Mas talvez o erro do terceiro campo esteja em pensar que, para isso, definir um nome é o mais importante. Nós acreditamos que o prioritário é a plataforma do programa-movimento radicalizada (que vai de acordo com a tarefa de construção programática aprovada pela direção do PSOL), construído da forma mais democrática possível, garantindo ampla participação da militância partidária e consulta às instâncias de base e setoriais. E que, ao invés de um nome único, sejam dois, em uma chapa presidencial coletiva, que não fortaleça personalismos e se tenha presidente(a) e co-presidente(a) em igual patamar até o momento do registro da candidatura no TSE.
Nós do Subverta acreditamos que esta plataforma para uma esquerda radical, de massas, coletiva, com forte representatividade da luta contra as opressões, ecossocialista e com o compromisso de ambos(as) indicados(as) de representar e defender os princípios e a construção do PSOL enquanto partido, é o que melhor pode nos colocar em uma situação de verdadeiramente disputar os rumos da sociedade no debate eleitoral e cumprir nosso papel neste capítulo da história de nosso país. Se conseguirmos pensar estrategicamente o papel da esquerda radical nestas eleições, sob estes marcos, acreditamos que os resultados podem ser surpreendentes.
Amei a ideia de Sonia Guajajara para presidente. Entretanto, ela precisa desenvolver outras pautas como a econômica, segurança, educação, saúde e moradia.
Sou PSOL Niterói e torço para que vença nosso melhor candidato! E urgente! Estamos perdendo muito tempo! Ou não?!
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