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O Agro é Ecocida: o caso Chapada dos Veadeiros

Crescem evidências de que o incêndio foi intencional e motivado pelos lucros do agronegócio.

por Alexandre Araújo Costa | Foto: Flavia Davies (Divulgação)

O cenário é de devastação completa, de terra arrasada. Ardendo há mais de uma semana, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma das mais importantes unidades de conservação (UC) de nosso país perdeu nada menos que 26% de sua área, impressionantes 64 mil hectares ou, para que se tenha ideia, 3 vezes a área da cidade de Recife. A área do parque abriga 32 espécies da fauna e 17 da flora ameaçadas de extinção, o que constitui um verdadeiro ecocídio.

Segundo o site do ICMBio, cinco aviões tanque da própria instituição, além de helicópteros do Ibama, Polícia Rodoviária Federal, CBMGO e Polícia Militar do DF são utilizados no combate. Mas mesmo com esse aparato e por mais que centenas de brigadistas, bombeiros e voluntários, em uma ação heroica, estejam enfrentando as chamas e a fumaça tóxica, o fogo ainda segue fora de controle. Aliás, é importante lembrar que, com o aquecimento global que provoca aumento de temperatura, redução de umidade e prolongamento dos veranicos e da estação seca, cresce a tendência a queimadas e incêndios se alastrarem em áreas não só como o cerrado brasileiro, mas como vimos recentemente na Califórnia e em Portugal.

Vão crescendo também as evidências de que esse incêndio na Chapada dos Veadeiros foi intencional. “Não existe a possibilidade de combustão espontânea nessa região e 100% dos incêndios na seca no Cerrado são provocados pelo homem”, como afirmou Fernando Tatagiba, chefe do Parque, à BBC Brasil. Ele acrescenta: “O local onde o fogo começou deixa claro que o incêndio foi uma ação humana. O que mais chamou a atenção foi que o fogo começou justamente dentro do aceiro (retirada de vegetação) que fizemos para evitar que incêndios externos atingissem o parque, no momento em que o vento estava soprando na direção do parque”.

A ação, portanto, implica responsabilidade de quem conhece a região e com conhecimento tanto das medidas de proteção tomadas pela direção da UC quanto do efeito de um fogo ateado naquele ponto. Fala-se de ação de ruralistas em represália à expansão da reserva que em Junho deste ano passou de 65 mil para 240 mil hectares em área contínua. Ou seja, o que o fogo consumiu equivale à área anterior da própria UC.

O poderio do agronegócio e a ameaça que ele representa à integridade dos ecossistemas brasileiros é, por sinal, um dos centros da denúncia levada pelos Guardiões da Floresta, em seu giro pela Europa. Dentre as propostas pelo grupo, que conta com Sônia Guajajara e a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) está o de que o ecocídio seja levado às cortes internacionais como crimes contra a humanidade, caso em que o crime da Samarco em Mariana e, provavelmente, o incêndio na Chapada dos Veadeiros se enquadram.

Em se confirmando o crime cometido pelos latifundiários da região, atesta-se o desastre do modelo econômico brasileiro que, diga-se de passagem, não só não foi combatido como incentivado pela esquerda que quer repetir o passado numa lógica de “menos do mesmo”. Mineração, agronegócio, grandes barragens, extração de petróleo e gás são desastrosas ambientalmente já com funcionamento “normal”, então o mínimo que se esperaria seria o máximo rigor quando algo além da “normalidade destrutiva” emergisse. A decretação do confisco imediato das terras e bens de empresas e empresários criminosos seria a medida básica nesse caso, mas se o quadro ambiental já vinha ruim com Dilma e Lula, a impunidade e o favorecimento aos setores capitalistas mais devastadores só cresceram sob Michel Temer. A Samarco até agora escapou ilesa da destruição de um povoado inteiro e um de nossos maiores rios (o Rio Doce), então é preciso denunciar amplamente o caso da Chapada e cobrar a apuração e devida responsabilização por mais essa ignomínia.

 

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