Sobre a Conferência Cidadã: avançar rumo a uma candidatura popular e ecossocialista para o Brasil!
A Conferência Cidadã, que aconteceu no último sábado, 3 de março, em São Paulo, reuniu alguns dos principais movimentos sociais e partidos de esquerda do Brasil, foi um bonito evento que teve como ápice a apresentação, por parte dos movimentos sociais presentes, das co-candidaturas de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara à Presidência da República, que foram oferecidas ao PSOL. Nesta nota, reafirmamos o nosso engajamento nessa construção e, partir da nossa participação na atividade e no processo de construção comum, consideramos necessário compartilhar algumas avaliações e propostas, visando contribuir com o sucesso dessa construção política.
Em primeiro lugar, saudamos o caráter de plural e diverso do espaço, que contou com forte participação de movimentos sociais e por cidadania ativa, a exemplo de militantes: indígenas, quilombolas, sem teto, comunitário, LGBT, feminista, de negras e negros, da juventude, estudantil, sindical, ambiental, religioso, artístico e cultural, de trabalhadores rurais, de ocupações de escola, partidos de esquerda e outros. São esses movimentos que junto à militância do PSOL podem garantir a força social e política das co-candidaturas que foram apresentadas no evento. Mais que isso o evento apontou pro futuro, pro após as eleições, onde deve se consolidar o processo de recomposição da esquerda. Do ponto de vista do formato do evento, avaliamos como positivo que a estética não tenha sido centrada apenas nos pré-candidatos, com protagonismo dos atores políticos e sociais e reivindicando os símbolos, as bandeiras, as músicas e as cores das tradições das esquerdas, da cultura popular e dos movimentos sociais brasileiros.
Entre as diversas manifestações no palco da atividade, prevaleceu o tom de uma esquerda que tem lado, o lado da combatividade, do enfrentamento aos privilégios, da resistência ao capital e às suas formas de coerção e de cooptação, da crítica ao desenvolvimentismo, da defesa de uma nova sociabilidade, da rejeição à conciliação de classes – em favor de uma esquerda democrática, independente, libertária e solidária. Uma esquerda firme no combate à exploração e a toda forma de opressão. Na Conferência foi feita a defesa de uma frente política contra o capital e o conservadorismo, assim como reivindicou-se o partido político como instrumento na luta de classes. O evento apresentou um amplo movimento anti sistêmico, de esquerda, popular, para além das fronteiras tradicionais dos partidos e organizações, aberto para os novos movimentos, para a ação de novos sujeitos em conflito com o capital. Esse caráter refletiu a proposta de pré-candidaturas de um líder de um movimento sem teto e de uma liderança indígena, num partido socialista, por meio de uma aliança entre o PSOL, MTST, APIB, dentre outros e, muito provavelmente, o PCB.
A Conferência Cidadã foi um espaço organizado a partir da plataforma Vamos!, uma frente política ampla da qual participam MTST, APIB, Fora do Eixo, Movimento 342, figuras da esquerda do PT e do PC do B, o PCB, militantes e organizações do PSOL e de outros movimentos sociais e populares. Esse espaço adquiriu uma dinâmica própria, localizando-se entre a crítica à experiência de conciliação de classes dos governos petistas e a perspectiva de unidade de ação contra o golpe e suas iniciativas.
Reconhecemos a autonomia e a legitimidade que esses movimentos têm em organizar uma Conferência e um processo político com esse perfil. Sabemos que não se tratava de um espaço do PSOL e que seu papel era justamente aglutinar os setores da sociedade civil dispostos a participar dessa aliança com o nosso Partido. Porém, a aparição de Lula no evento, pelos efeitos previsíveis que teria, poderia ter sido informada com mais antecedência e decidida em acordo com os dirigentes do PSOL que acompanhavam o processo. A exibição do vídeo de Lula foi um grave equívoco, pois o ex-presidente é a representação de uma história a ser superada, por manter a mesma orientação política que levou-nos ao golpe, portanto, não combina com o que o espaço propunha.
Para a militância do PSOL forjada a partir da expulsão do PT, pela posição firme contra a reforma da previdência de Lula e Henrique Meirelles, o descontentamento foi grande e não poderia ser diferente. Assim como deve ter sido constrangedor para parte dos movimentos indígenas, especialmente os do centro-norte do país, que sofreram na pele as consequências da aliança com o agronegócio, a mineração e a expansão do setor elétrico brasileiro. Temos solidariedade com o ex-presidente Lula no processo de sua condenação, entendemos como mais uma etapa do golpe, e seguimos atuantes na Frente Única contra o governo Temer e as medidas golpistas nos três poderes. Contudo, a proximidade de Lula na construção de um novo horizonte político, é mais um limitador do que um catalisador do processo de reconstrução que defendemos para a esquerda brasileira.
Acreditamos que a noite do sábado representa um marco histórico para a construção de uma alternativa popular e de esquerda no Brasil. É preciso construir o novo que supere a velha política com uma identidade programática ecossocialista e radicalmente democrática. A candidatura de Guilherme Boulos e de Sônia Guajajara – uma síntese da luta do campo, da cidade e da floresta – pode reunir a força necessária para fazer a esquerda sair da defensiva em que foi colocada. Para isso, será necessário conjugar o envolvimento dos setores da sociedade civil engajados nessa perspectiva, com o conjunto da militância do PSOL e das forças socialistas que constituíram um pólo de oposição de esquerda às diversas formas de política aliada ao capital no Brasil. Precisamos oferecer uma alternativa eleitoral genuína das forças populares para fazer frente aos ataques de Temer e das classes dominantes aos direitos dos povos no Brasil.
Para garantir, efetivamente, o caráter amplo, plural e democrático desse processo, ao mesmo tempo que em que garantimos sua capacidade mobilizadora e de resistência, precisamos capilarizar a sua construção por meio de comitês locais, nos territórios, com o envolvimento do inúmeros de movimentos, organizações, coletivos e pessoas que o compõe. Precisamos realizar espaços de diálogo e seminários por todo o país para que seja possível construir uma síntese entre o programa da plataforma Vamos! e o acúmulo programático do PSOL, como deliberado em nosso último Congresso. Um programa comprometido com os interesses das classes subalternas e enfrentando privilégios. Defendemos que esse projeto tenha uma identidade ecossocialista, periférica e popular, para potencializar as lutas de resistência. Será a nossa lealdade aos direitos do povo trabalhador e aos princípios de uma esquerda democrática e anticapitalista que poderão tornar essa aliança política atrativa para amplos setores das classes trabalhadoras e dos povos do Brasil.
Vamos juntos construir uma esquerda popular, radicalmente democrática e ecossocialista para o Brasil!
Coordenação Nacional do Subverta – coletivo ecossocialista e libertário / PSOL.
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