Coronavírus: uma guerra de classes
Na televisão e redes sociais temos escutado que estamos numa “guerra” contra o coronavírus (covid-19).
Este discurso é só parcialmente verdadeiro.
Estamos numa sociedade capitalista.
E nela, todos os grandes dilemas, todas as grandes questões, têm um conteúdo de classe.
Desde 2008 o capitalismo encontra-se numa “longa crise”.
A mais grave crise desde 1929.
A conjunção de uma forte crise econômica, que provoca desemprego massivo, precarização do trabalho e diminuição de políticas públicas em favor da classe trabalhadora, e uma crise ecológica, causada pela atuação humana no interior da lógica capitalista.
A mudança climática, o “caos climático [que cria] fenómenos meteorológicos extremos que provocam a perda de vidas humanas, a destruição do habitat e das infraestruturas, ou seja, a morte, a miséria e o agravamento da situação de pobreza para milhões de seres humanos.[1]”
Estamos diante de uma crise de civilização.
A forma de ser e viver da lógica capitalista, baseada na destruição e não na construção, na competição e não na solidariedade, na morte e não na vida, também está em crise.
A pandemia que estamos vivendo não é causada por um vírus “fora do mundo”.
Ela se insere no interior deste mundo, e as dimensões do seu enfrentamento se colocam também nestas crises.
Com a dimensão econômica da crise, os capitalistas não podem abrir mão de nenhum montante de riqueza.
Em especial os capitalistas que não são parte dos grandes oligopólios transnacionais.
Todos os recursos do Estado, todos os seus fundos, todo o seu aparato de financiamento e investimento, tudo deve ser entregue aos capitalistas para que eles consigam manter seus lucros nas taxas desejadas.
Neste contexto de pandemia, fica a questão: para onde vai o dinheiro acumulado e gerido pelo Estado?
Para políticas públicas em saúde, ou para o bolso dos capitalistas?
Para garantia de salários do povo, ou para viabilizar a manutenção dos lucros das classes dominantes?
É importante destacar que certas atuações do Estado na economia que garantem que o “ciclo de rotação do capital” continue (produção, circulação, venda, reinvestimento e reinicio do ciclo) podem viabilizar a estabilidade necessária para grandes capitalistas, e manter a sua economia viva.
No entanto, certos capitalistas que não tem megas montantes de capital, ou não tem um mercado relativamente controlado por sua atuação de oligopólio (lucros de monopólio) podem acreditar que a única saída é “manter a rotação do capital, e usar para si os recursos do Estado”.
Forças as pessoas a trabalharem, diminuir salários, aumentar as demissões e usar os fundos públicos para financiar seus lucros diretamente.
É isto que uma burguesia esfarrapada, como as que controlam a atuação da “Madero”, Havan”, o senhor Roberto Justus, que de forma mais explícita declararam seus interesses de classe: que os pobres e suas mortes paguem o preço da crise econômica em tempos de coronavírus.
Esta burguesia esfarrapada, ao lado dos capitalistas da FIESP, dentre outros, foram os principais impulsionadores da campanha de Messias Bolsonaro.
São eles que dirigem o seu governo.
E atuam neste período de pandemia para garantir que todos os recursos do Estado sejam dirigidos para eles.
Para nós, trabalhadores e trabalhadoras, é uma questão de vida ou morte.
Queremos trabalhar para viver, e não viver (e neste caso extremo morrer) para trabalhar.
O Subverta, coletivo ecossocialista e libertário, fez propostas fundamentais que se contrapõem às preconizadas pelos capitalistas.
As propostas do Subverta podem ser sintetizadas na palavra de ordem “Fortalecer o SUS, garantir direitos fundamentais: Fora Bolsonaro!”.
Que façamos uma greve geral, todos em casa, se os capitalistas nos forçarem a trabalhar para manter seus lucros.
Que o Estado, que deve servir ao povo, use seus recursos para prover o bem-estar e a saúde da população, atuando na garantia de salários e empregos.
Também queremos uma economia forte e dinâmica. E para isto, precisamos de duas coisas: saúde e derrotar os interesses capitalistas.
por Rodrigo Teixeira
[1] Sobre crise, possibilidade de colapso da sociedade industrial e probabilidades-necessidades de transformação revolucionária e ecossocialista | por Alexandre Araújo Costa
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