Por que ecossocialistas devem considerar o veganismo?
“Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; porém, o que importa é transformá-lo”, Karl Marx em A Ideologia Alemã. [1]
Reivindicar o socialismo passa pelo posicionamento político, mas também por atitudes práticas. Em um momento de emergência climática, todas as ações que combatam a destruição do planeta devem ser tomadas. Isso passa pela política institucional, reivindicações de massa e movimentos sociais, mas também por ações cotidianas e individuais.
Segundo dados do Observatório do Clima, a agropecuária é o maior emissor de gases do efeito estufa no Brasil, sendo responsável com 27% do total nacional em 2020. Isso ocorre não apenas pela ruminação feita por bovinos vivos, mas também pelo transporte do animal abatido para diversas regiões do Brasil e do mundo. Segundo Renata Potenza, coordenadora de projetos do Imaflora, organização responsável pelo cálculo das emissões da agropecuária, “o setor agropecuário atingiu a maior emissão de gases de efeito estufa de todos os tempos, mesmo em ano de pandemia. [2]
Como se não bastasse, as florestas têm sido destruídas pelo agronegócio com a finalidade de dar espaço para pasto ou plantações de soja, que, ao final, tornam-se ração para animais. Na região da Amazônia Legal, que engloba nove estados do Brasil pertencentes à bacia Amazônica, o desmatamento em 2018 já atingia uma área superior a duas Alemanhas, com 783 mil quilômetros, segundo o dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). [3].
Existem aqueles que alegam que a expansão da fronteira agrícola é importante para o combate à fome, porém, a análise dos dados mostra que o ecocídio alimenta bocas do norte global e a burguesia brasileira. [4]
Segundo dados do IBGE, 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros e brasileiras vêm da agricultura familiar. Apesar disso, esse setor, que não se apoia na monocultura e na comida com veneno, é negligenciado pelo governo, com baixo incentivo. Nas pequenas propriedades, cerca de 42% das famílias estão na linha da pobreza ou abaixo dela, sobrevivendo com aproximadamente R$400 por mês. [5]
O veganismo popular, que é um projeto ético-político, apoia a agroecologia, as agroflorestas, a reforma agrária, a soberania alimentar e os pequenos produtores, pois nossa luta é pela emancipação de todas as formas de vida e “as mudanças materiais produzidas por uma reforma agrária popular, pautada pela soberania alimentar, são as condições necessárias pra que explorar e matar animais se torne algo obsoleto”, segundo Sandra Guimarães. [6]
Não existe desenvolvimento sem o envolvimento do povo e a preservação do meio ambiente!
Por Lorrane Carneiro da Setorial de Libertação Animal
[1] MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Supervisão editorial, Leandro Konder; tradução, Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Martorano – São Paulo: Boitempo, 2007.
[2] Observatório do Clima. Na contramão do mundo, Brasil aumentou emissões em plena pandemia. 2021. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/na-contramao-do-mundo-brasil-aumentou-emissoes-em-plena-pandemia/> Acesso em: 26 mai. 2022.
[3] NEHER, Clarissa. O papel de gado e soja no ciclo de desmatamento. 2020. Disponível em:
<https://www.dw.com/pt-br/o-papel-de-gado-e-soja-no-ciclo-de-desmatamento/a-52151786> Acesso em: 26 mai. 2022.
[4] MENEGASSI, Duda. Relatório expõe agronegócio como grande motor do desmatamento ilegal de florestas. 2021. Disponível em: <https://oeco.org.br/noticias/relatorio-expoe-agronegocio-como-grande-motor-do-desmatamento-ilegal-de-florestas/> Acesso em: 26 mai. 2022.
[5] KAFRUNI, Simone; MEDEIROS, Israel. Agricultura familiar garante 70% da mesa do brasileiro, mas está longe do agro 4.0. 2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2020/09/4878333-desigualdades-no-campo.html> Acesso em: 26 mai. 2022.
[6]GUIMARÃES, Sandra. MST e Veganismo Popular. 2021.Disponível em: <https://mst.org.br/2021/11/10/mst-e-veganismo-popular/> Acesso em: 26 mai. 2022.
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