A luta pelo fim da escala 6×1 é uma luta antirracista

Por Nathalia Santana e Adriana Gerônimo

20 de novembro de 2024. A data é uma referência histórica para o movimento negro que luta, desde a década de 1970, pela instituição de um marco de celebração da luta antirracista no Brasil. Esse ano, no entanto, ela ganha um caráter ainda mais importante: pela primeira vez a data será celebrada enquanto feriado em todo o território brasileiro, a partir da sanção da lei pelo presidente Lula em 2023.

Neste dia, pouco mais de três séculos atrás, Zumbi dos Palmares foi assassinado em uma emboscada de bandeirantes portugueses no Brasil colonial. Zumbi foi líder do maior quilombo da América Latina e tem uma história atravessada de resistência e luta, como a maior parte da população negra ainda hoje no Brasil. Mas porque ainda precisamos falar de Zumbi?

Nas últimas semanas, o debate sobre a jornada de trabalho ganhou força nas redes e na imprensa no Brasil. O movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que nasceu de um relato indignado de Rick Azevedo em uma rede social, chegou até Brasília por meio de uma PEC proposta pela deputada federal Erika Hilton, que agora inicia seu processo de tramitação para apreciação dos parlamentares. O que une Erika e Rick? Além de ambos hoje serem parlamentares eleitos pelo PSOL, são duas pessoas negras e LGBTs que já viveram na pele a extenuante jornada 6×1. 

Se o debate trabalhista e de direitos trabalhistas reaparece no cenário nacional, é preciso nos debruçarmos mais a fundo sobre a caracterização de quem é essa classe trabalhadora que é afetada diretamente por essa jornada. Qual a cor dessa classe trabalhadora? Qual a cor dos atendentes das farmácias, dos lojistas, dos trabalhadores da construção civil, dos motoristas de ônibus e de tantos empregos com jornadas de 44 horas por semana? 

Trabalhadores formais negros são a maioria na escala 6×1 e, neste grupo, são os que têm os menores salários. E não é coincidência que pessoas negras ocupem majoritariamente estes postos de trabalho. Isso é um reflexo direto de uma falsa abolição que nunca garantiu direitos plenamente, em especial, os direitos trabalhistas. 

O Estado brasileiro é responsável pelo genocídio da juventude negra, que vive nas favelas e periferias, pelo encarceramento em massa, por tantos índices que apontam a dura realidade do que é ser negro no Brasil. Também é responsável pela população negra ocupar os piores postos de trabalho e receber os menores salários. 

A ausência de políticas de inclusão e reparação histórica são pedras no caminho da superação do racismo, que somente será possível para muito além da lógica da representatividade, apenas. Uma proposta de emenda constitucional, como a apresentada por Erika Hilton, seria capaz de mudar a vida de toda a classe trabalhadora. Mas seria especialmente impactante na vida desses trabalhadores negros e negras, responsáveis por sustententar este país de pé, ainda que a branquitude insista em negar o papel do negro na construção da sociedade brasileira.

O 20 de novembro é resultado de muita luta por memória, reparação e valorização do povo negro. Mas ainda temos muito para avançar, as lutas de ontem e de hoje se entrelaçam e são fundamentais para o combate do racismo que estrutura nosso país.


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