Eleição e posse de Trump
A eleição de Trump marca uma nova fase do capitalismo global que se abriu com a grande crise de 2008-2009. Há de fato uma nova ordem mundial sendo erguida no lugar daquela que vai sendo suplantada, qual seja, a que se abriu com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS. A partir dali, o predomínio estadunidense reinou absoluto através de uma agenda de livre mercado e de internacionalização jamais vista.
Acontece que sob a égide da globalização neoliberal, o capitalismo planificado chinês mostrou como a planificação monopolista é mais eficiente nos próprios termos capitalistas do que a anarquia concorrencial neoliberal. Em um primeiro momento, a capacidade produtiva chinesa varreu a indústria europeia, tornando suas economias cada vez mais ocas. E em um segundo momento, abriu uma nova fase da disputa técnica e tecnológica com os EUA e vem demonstrando capacidade de superá-los em muitas áreas.
Recentemente, os EUA aumentaram o prazo de permanência do aplicativo Tik Tok no país para que consigam negociar 50% da empresa, a fim de construir uma joint venture e impedir o crescimento da China. Trump promete uma gestão pautada em negociações financeiras protecionistas em que a oligarquia estadunidense ficará cada vez mais rica e, por consequência, base fiel de sustentação de seu governo.
É por isso que a vitória de Trump se deu de forma tão retumbante, não se trata mais de um fascista outsider, mas de um fascista que unifica os interesses imperialistas das classes dominantes da nação mais poderosa do mundo. A adesão dos grandes bancos em torno da expectativa de fortalecimento do dólar. A união Musk, Zuckerberg e Bezos a Trump representando o fim da ilusão da Internet e das redes sociais como espaços públicos e a ativação de um enorme arsenal tecnológico financeiro de dominação e hegemonia.
Em seu discurso de posse, Trump ilustra ao vivo, para todo o mundo, um futuro distópico, de destruição da natureza, aniquilação das relações humanas com seus vizinhos, destratos diplomáticos, violência institucional, negação do outro. Em seu governo não haverá espaço para expressar qualquer existência que não seja binária, tacanha. Sem raça, sem gênero, sem diversidade, apenas meritocracia. O Panamá não é digno do canal que leva seu nome, nem o Golfo do México se salvou, futuro “Golfo da América”. O que é digno, no entanto, para esse novo governo é o negacionismo climático e científico, exposto na saída dos EUA da OMS e do Acordo de Paris, e o golpismo, escancarado no perdão presidencial para 1500 pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021.
A destruição da natureza assume um papel especial em seu discurso. Uma vassala de seus desejos megalomaníacos, fonte de riqueza e superioridade global. O que se prevê é que sua atuação continue negando acordos internacionais de diminuição de emissão de gás carbônico na atmosfera ou qualquer outra iniciativa de defesa do meio ambiente. Não restará uma só gota de petróleo sob o solo estadunidense, se seus planos derem certo.
Antes mesmo da posse, Trump já havia contatado o governo da Dinamarca. Sua ideia é anexar o território da Groenlândia aos EUA. Esse é um território estratégico de extração de minério para baterias, demonstrando mais uma vez, o interesse financeiro de exploração da terra em detrimento da manutenção da natureza.
É fato que a história não é feita apenas de eventos, mas de processos, então é necessário aguardar o desenrolar dos fatos a partir da posse de Trump. Mas tudo indica que se abre uma nova ordem de maior protecionismo e nacionalismo; de maiores ameaças de guerras e disputas territoriais, seja a Groenlândia ou, pasme, o Canadá, que estavam mais ou menos latentes há décadas.
Portanto, e por fim, é preciso entender que essa nova ordem simbolizada por Trump, substitui aquela simbolizada por Thatcher. Se no final dos anos 1970 o bloco histórico das classes dominantes se uniu em torno do liberalismo radical, agora os capitalistas estadunidenses, ameaçados pelo capitalismo planificado chinês, não se envergonham em abraçar o fascismo, a xenofobia, a política de gênero e o protecionismo econômico para manterem seus privilégios e lucros.
Nada está perdido, desse acirramento podem surgir coisas novas. Lutas, mobilizações, convergências internacionais. O próprio liberalismo extemporâneo brasileiro pode cada dia se tornar mais ridículo diante dessa nova ordem mundial e o campo progressista perceber que a opção fiscalista neoliberal é uma inútil empreitada para cavucar a própria cova.
Mais do que nunca o internacionalismo ativo, as ações de solidariedade e articulação internacionais, os movimentos contra as guerras imperialistas, contra o colapso climático e as petrolíferas, e uma vigorosa estratégia de desenvolvimento dos países periferizados devem fazer parte da estratégia dos ecossocialistas. Ecossocialismo ou barbárie nunca soou aos nossos ouvidos de forma tão realista.
Descubra mais sobre Subverta
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário