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Desastre no RS: A culpa não foi do show da Madonna nem foi castigo de Deus

Por Almerindo Cunha, militante do Subverta Rio Grande do Sul

O ano de 2024 vai ficar marcado não só para nós, gaúchas e gaúchos, mas para todos os brasileiros e brasileiras e inclusive vizinhos do nosso Mercosul, como o ano de maior desastre ambiental de todos os tempos. 

Me poupei nos primeiros dias de fazer um balanço de culpas deste desastre, pois meu histórico político e polêmicas certamente tornariam minhas reflexões, na visão de muitos, meramente políticas. Mas é difícil não apontar as irresponsabilidades de todos os responsáveis. É sabido que não há mais volta para a crise ecológica, sendo necessário mitigar o máximo possível. Trata-se de algo crônico e irreversível.

Durante anos, fingimos que nada poderia acontecer, que o derretimento das calotas polares era um acontecimento distante. A imagem do urso polar numa rocha de gelo totalmente ilhado era algo que nos apavorava, mas era quase ficcional. No ano de 2024, a cena se repete, agora com um cavalo, não ilhado em um bloco gelo, mas sim em um telhado. O desastre ecológico ocorrido no sul do Brasil foi no estilo “todos são iguais perante a natureza”. Não houve nenhuma discriminação de classe, credo, cor, etnia ou gênero. Todos fomos atingidos. 

No último ano, os responsáveis pelo governo do estado revogaram leis ambientais, motivados por Ricardo Salles, ex-ministro do meio ambiente conhecido por “passar a boiada“.

Em 2017, Nelson Marchezan Júnior, prefeito de Porto Alegre à época, extinguiu o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), que era responsável pelos serviços e obras de drenagem. O DEP estava ligado ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), que vem sofrendo constantes ataques e sucateamentos pelas gestões municipais liberais. Esses governos municipais, incluindo o do atual prefeito, Sebastião Melo, seguem na política de vender tudo, na ânsia de privatizar e terceirizar toda a cidade, deixando-a nas mãos de empresas privadas despreparadas. 

Apenas uma semana antes das inundações, uma pousada que, em convênio com a prefeitura, abrigava pessoas em vulnerabilidade pegou fogo em Porto Alegre, matando 10 abrigados. Esta tragédia é responsabilidade deste governo negligente, que gasta milhões de reais contratando locais sem condições mínimas e terceirizando o cuidado de uma parcela extremamente vulnerável da população da capital.

No âmbito federal, o governo Lula mantém a inércia quanto a políticas concretas de diminuição da captação de petróleo em áreas que representam riscos ecológicos e não adota uma postura firme contra o agronegócio com suas políticas de envenenamento e exploração de reservas ambientais. 

Não adianta apenas trocar os governantes, é necessário radicalizar ações em defesa da natureza. Isso é algo muito difícil de ocorrer em um sistema capitalista, onde o lucro está acima de tudo. A velha balela de que é necessário equilibrar o progresso, a economia e a natureza. Não é necessário equilíbrio! Precisamos deixar de priorizar o lucro do petróleo. Precisamos produzir somente o necessário para o povo. Precisamos de políticas públicas para preservação da natureza. Precisamos criar uma cidade voltada para o povo, e não para as grandes construtoras e bilionários!

Milhares de pessoas estão desalojadas, algumas com maior poder aquisitivo, outras sem nada para recomeçar. Não podemos aprofundar o racismo ambiental. A desapropriação, como sempre foi feita de forma traumática, não pode novamente se reproduzir da forma tradicional, retirando as pessoas de onde vivem há anos e deslocando-as para lugares afastados sem infraestrutura. É importante implementar uma política de realocação para as populações que não podem mais residir em áreas de risco, mas, juntamente com a transferência dessas pessoas, é crucial fornecer infraestrutura, como áreas industriais, escolas, postos de saúde e segurança. Os desafios são de proporções inéditas e por isso precisamos enfrentá-los de formas inéditas. Podemos aprender com este desastre e usar os recursos prometidos de maneiras novas. 

Por fim, a vida toda ouvi meu pai, que passou pela enchente de 1941 aos 17 anos, me dizer, na sua simplicidade, que o aterro do Guaíba era criminoso. E de forma profética repetir:

O Guaíba vai tomar de volta o que tomaram dele.

Maio de 2024

Almerindo Cunha

Dmae – https://prefeitura.poa.br/dmae/informacoes-esgoto-pluvial#:~:text=At%C3%A9%202017%2C%20servi%C3%A7os%20e%20obras,30%20DE%20AGOSTO%20DE%202017)

Brasil de Fato. Pousada que pegou fogo em Porto Alegre tinha autorização da prefeitura para atuar sem alvará – https://www.brasildefato.com.br/2024/04/27/pousada-que-pegou-fogo-em-porto-alegre-tinha-autorizacao-da-prefeitura-para-atuar-sem-alvara

CNN. Contratos da prefeitura de Porto Alegre com pousada incendiada passam de R$ 9,1 milhões – https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/contratos-da-prefeitura-de-porto-alegre-com-pousada-incendiada-passam-de-r-91-milhoes/

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