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MES: só não entende quem não quer

Texto de opinião de Carlos Bittencourt

O camarada João Machado em artigo recente se mostrou surpreso com o apoio do MES à federação com a REDE e afirmou não compreender a posição dos companheiros. Foi além, fez um apelo esperançoso de uma mudança de posição daquela organização (que foi em vão). Parece que João e sua organização estão muito concretamente diante do dilema da esfinge: decifra-me ou te devoro.

Apesar de começar apontando “os zig-zags do MES”, João se apega a poucos textos recentes de Roberto Robaina que reduzem a crítica do João apenas a uma parte do movimento errante do MES, a um zig ou a um zag. Mas não ao zig-zag completo. Isso não é uma limitação analítica do João, uma das mentes mais capazes do PSOL, é uma limitação prática. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Explico. O MES se tornou o principal aliado da Comuna tanto no PSOL quanto na IV Internacional. O MES é quem dá musculatura numérica e organizativa à política da oposição no PSOL. Olhar nos olhos do zig-zag e caracterizá-lo como oportunismo é uma tarefa demasiada difícil para quem depende dele.

Vejamos. O MES inaugurou no PSOL a política de alianças amplas, coligando com PV. O MES financiou campanhas eleitorais e movimentos próprios com recursos da Gerdau, da Taurus e da Odebrecht. Iniciou um processo de fusão com o falido MTL de Janira Rocha. O MES apoiou a Lava Jato. Robaina escreveu um texto dizendo que a aliança com Ciro podia ir bem além de uma aliança defensiva contra Bolsonaro. O MES já fechou um acordo para apoiar uma militante antiaborto na campanha eleitoral no RJ. Na análise de João esses aspectos são obnubilados pela “correta” posição do MES no último Congresso partidário. A questão é que quando o MES vai à direita, eles sustentam isso com verniz leninista, sempre mimetizando um Lênin num trem do Reich indo fazer a revolução. 

Por que essas verdades inconvenientes precisam ser deixadas de lado? É simples: porque se se decifra a esfinge dos “zig-zags” do MES, dois pilares da política da Comuna vão ao chão.

O primeiro e mais grave deles é que o MES não defende uma pré-candidatura do PSOL por conta da manutenção de um suposto perfil anticapitalista. Isso não é verdade e eu posso provar. Sabemos da ampla flexibilidade tática dos camaradas, como já mostrado acima. Antes da soltura do Lula, um artigo de Robaina (que foi retirado do ar) insinuava uma aliança com Ciro. Apoiaram na Câmara Federal a candidatura do malfadado Baleia Rossi do MDB. Foi a soltura de Lula que motivou a reação do MES. Devido ao seu conhecido antipetismo, que o levou a apoiar a lava-jato e subestimar o golpe e agora os leva a apoiar a aliança com a REDE, de Marina Silva e Heloísa Helena, duas antipetistas de carteirinha. 

Mais vale um desiludido do que um iludido. Então, é preciso ver que há coerência interna nessa movimentação do MES. João não pode enxergar isso, porque isso enterra de vez o argumento que a aliança com o MES no PSOL é em torno da disputa de um perfil anticapitalista, quando não é.

O segundo aspecto que impede que o camarada tire as conclusões completas dos “zig-zags do MES” é que toda a sua argumentação em torno do liquidacionismo, de que o PSOL se encontra à beira da morte para o socialismo, vai por terra quando a mobilidade de posições internas e a correlação de forças mostra-se dinâmica e democrática. Como sustentar a tese de que existe uma “direita” do PSOL quando seu principal aliado nacional e internacional se alia a essa “direita” em tema tão caro para o camarada. Não há comparação da maioria do PSOL com o que foi o “campo majoritário” do PT (quando denomina assim o João faz subrepticiamente essa afirmação). Setores que compõe a maioria estão em acordo com a posição do João e o MES está contra. Essa mobilidade é a prova viva de que o PSOL está vivo, muito vivo.

Pra bom entendedor meia palavra basta, mas quem não quer ver não vê. O MES é uma organização ultra taticista que tem na sua própria expansão o principal objetivo. Organiza sua estratégia em torno da disputa dos setores médios da sociedade com temas como corrupção, punitivismo, ética. Apostaram tudo que a derrota do PT seria o avanço de seu socialismo. Erraram feio. Perderam um deputado federal para o Ciro Gomes, fato que o João não menciona ao concordar que a perda de figuras do PSOL teve a ver com a diluição de seu perfil anticapitalista. Quando sabemos que se o PSOL tivesse se mantido fechado à política da unidade as perdas seriam ainda maiores.

Portanto, e isso nunca será reconhecido por João, não existe uma aliança com o MES na luta pelo perfil anticapitalista do PSOL. Existe essa luta por parte da Comuna de maneira muito determinada e honesta, mas a aliança com MES em torno desse tema é o famoso “me engana que eu gosto” e a posição do MES sobre a federação com a REDE (que não foi revista como esperava João) é a prova viva dessa ilusão.

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