Adam Smith e os coletes amarelos
por Eric Toussaint; tradução de Carlos Bittencourt
Na realidade, Adam Smith segue sendo pouco conhecido. Os neoliberais e defensores da ordem estabelecida o elogiaram sistematicamente falsificando sua visão do mundo. De fato, eles nem se importam em levar a sério o conteúdo de seu trabalho.
Algumas citações do principal trabalho de Adam Smith, Pesquisa sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, publicado em 1776, mostram o quanto sua análise da sociedade se refere à luta de classes e permite colocar em perspectiva o que estamos vivendo neste momento com os “coletes amarelos”.
Claro que citar Karl Marx nos permitiria apreciar como a análise deste revolucionário nos dá as chaves essenciais para compreender o que está passando diante de nós. Mas isto não surpreenderia ninguém. Ao contrário, referir-se a Adam Smith pode ser provocativo. Temos que abrir os olhos para o que está acontecendo e fortalecer nossos argumentos contra aqueles que vêem a injustiça como a ordem natural das coisas. Um retorno à análise de Adam Smith das classes sociais também torna possível compreender os elementos de continuidade no sistema de exploração e dominação capitalista. Obviamente, a sociedade mudou, mas há aspectos recorrentes que é interessante destacar.
Adam Smith, esse ícone dos partidários de Macron e de uma esmagadora maioria daqueles e daquelas que sustentam que o sistema capitalista é o horizonte insuperável da sociedade, lançou luz na ação bastante crua da classe capitalista e o apoio que recebe das leis e do parlamento. Ele realmente merece ser jogado na cara dos supostos experts e dos jornalistas main stream que na realidade põe sua energia a serviço da injustiça e que de Adam Smith conhecem apenas vagamente a “mão invisível”.
Adam Smith realizou uma análise muito fina das classes sociais de sua época e, particularmente, da classe capitalista e da classe trabalhadora. Ele descreve a mecânica da luta de classes.
Nessa passagem ele explica o que era um consenso na “boa” sociedade de sua época e que segue sendo válido atualmente:
“Raramente se costuma falar da união dos patrões, embora frequentemente se fale da dos trabalhadores. Mas seria necessário não conhecer nem o mundo nem o assunto em questão para imaginar que os patrões raramente se reúnem. Os patrões estão sempre e em toda a parte em uma espécie de acordo tácito, mas constante e uniforme, para não elevar os salários acima de seu nível atual. Violar essa regra é, em toda a parte, uma ação impopular e submete o patrão à reprovação entre seus vizinhos e iguais. De fato, ouvimos pouco sobre estas uniões porque é o habitual, inclusive se pode dizer que é o estado natural das coisas, que nunca ninguém ouve falar.”
Vamos colocar isso no estilo deste primeiro quarto do século XXI: o patronato conspira para evitar o aumento do salário mínimo legal ou dos rendimentos da maioria dos assalariados. Os patrões que quisessem permitir um aumento de salários seriam vistos, como falsos irmãos, como traidores da sua classe. A mídia dominante não fala dessa ação do patronato para impedir o aumento salarial porque faz parte da ordem normal.
Sigamos a exposição de Adam Smith: “os patrões também constituem, às vezes, combinações privadas para afundar os salários do trabalho abaixo desse nível. Estes acordos são conduzidos sempre com o mais absoluto silêncio e sigilo, até o momento da execução, e quando os trabalhadores se rendem, como às vezes ocorre, sem resistência, eles nunca são ouvidos por outras pessoas.”
Você leu bem! Adam Smith fala de conspirações entre patrões para baixar os salários. Isto é o que está acontecendo hoje na prolongação da grande ofensiva do Capital contra o Trabalho, iniciada há cerca de 30 anos por Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Efetivamente, a mídia dominante e os governos não dizem nada sobre esta ação conjunta dos capitalistas para abaixar os salários.
Continuemos com a leitura de Adam Smith, cujas palavras poderiam se aplicar ao movimento dos “coletes amarelos”. “Tais uniões, no entanto, se encontram frequentemente diante de uniões defensivas dos trabalhadores; estes muitas vezes também, sem existir nenhuma provocação desse tipo, por vontade própria, se unem para elevar seus salários. Suas pretensões usuais, por vezes, encontram-se no alto preço das provisões; às vezes dos grandes lucros que os patrões fazem com o seu trabalho. Contudo, sejam suas uniões defensivas ou ofensivas, se ouve falar muito delas.”
Alguns dirão que esta descrição não tem nada a ver com os “coletes amarelos” porque eles atuam contra o aumento de impostos. Se dizem isso é porque não não entenderam os propósitos expostos por uma grande maioria dos coletes amarelos. Rechaçam o aumento dos impostos previstos por Macron porque seus salários ou pensões (isto é, um salário diferido) são insuficientes e querem um aumento do salário mínimo legal e, em geral, salários e subsídios para “os de baixo”. Macron tenta desarmar o movimento ao anunciar, no dia 10 de dezembro, um aumento de 100 euros, a partir de 2019, no salário de um trabalhador que cobra o salário mínimo interprofissional (atual SMIC), mas sem aumentar o salário mínimo legal e sem que esse aumento tenha qualquer custo para os patrões. Por outro lado, este movimento se opõe também a injustiça fiscal e, portanto, aos privilégios fiscais outorgados aos ricos. Querem uma diminuição dos impostos que paga a maioria social e têm razão. Por exemplo, é necessário baixar o IVA dos produtos de primeira necessidade, da eletricidade e do gás, da água. Em todo caso seria para um consumo abaixo de um determinado nível, tendo em conta a composição familiar e outros critérios pertinentes. A respeito disso, Macron tenta ludibriar o movimento quando confirma a anulação do aumento do imposto sobre os combustíveis, mas afirma que não restabelecerá o imposto sobre as fortunas. Nenhuma pessoa sensata pode enganar-se.
Continuemos com a leitura de Adam Smith que se refere à atuação dos proletários de sua época: “para precipitar uma solução recorrem sempre a grandes tumultos e às vezes à violência e aos atropelos mais surpreendentes. Estão desesperados e procedem com o frenesi próprio do homem nesse estado, cuja alternativa é morrer de fome ou forçar os seus patrões a que, por medo, cumpram suas exigências.”
Adam Smith parece que nos fala dos coletes amarelos que atuam assim porque estão desesperados e procedem com o Frenesi próprio do homem nesse estado.
Prossigamos: “nestas ocasiões os patrões são tão barulhentos quanto o outro lado, nunca cessam de pedir em voz alta a assistência do magistrado civil, e a execução rigorosa daquelas leis que foram decretadas com tanta severidade contra as combinações de serventes, trabalhadores e jornaleiros”.
Diríamos que é uma descrição do que se passa na França desde o começo do movimento e, sobretudo, desde o segundo ato que se produziu no primeiro de dezembro de 2018. Os porta-vozes dos patrões e principalmente o chefe de estado e o primeiro-ministro não cessaram de “exigir com toda a força a autoridade dos magistrados civis e a mais rigorosa execução daquelas leis tão severas contra as ligas dos serventes, trabalhadores e jornaleiros (journeymen)“.
Esta numeração é interessante: “serventes, trabalhadores e jornaleiros” e nos faz pensar nas diferentes categorias de pessoas que se mobiliza no âmbito dos coletes amarelos. Seria interessante atualizar essa lista já que está claro que diferentes categorias agem em conjunto, em especial aquelas e aqueles que têm um emprego assalariado, os sem emprego, aposentados, os trabalhadores precarizados e os que fazem pequenos trabalhadores no setor informal. Isso cria uma aliança extremamente importante.
A Ministra de Justiça, o Ministro do Interior, o Presidente da República, o Primeiro-ministro, porta-voz dos ricos e dos patrões, os chefes da força policial e de outras forças repressivas, assim como a alta magistratura responderam ao movimento com uma repressão crescente e afirmaram que iam aplicar as leis mais severas aos manifestantes. E passaram a ação.
Afirmei no começo deste artigo que Adam Smith falava claramente da luta de classes, resta-me demonstrar que ele fez isso precisamente porque analisou a sociedade como dividida em classes sociais, duas delas antagônicas.
“Os salários correntes do trabalho dependem, em todos os lugares, do contrato estabelecido entre duas partes cujos interesses não são de modo algum idênticos. O trabalhador deseja obter o máximo possível, os patrões dar o mínimo. Os primeiros se unem para elevá-los, os segundos para rebaixar os salários do trabalho.”
Não é, contudo, difícil prever qual das duas partes deve, em todas as ocasiões ordinárias, ter vantagem na disputa e forçar a outra a cumprir seus termos. Os patrões, sendo em menor número, podem unir-se facilmente; e, ademais, a lei os autoriza, ou ao menos não proíbe, enquanto que proíbe as uniões de trabalhadores.
Na passagem que acabamos de ler, Adam Smith pôs em evidência o fato de que a classe dos assalariados e a classe dos capitalistas têm interesses contraditórios e que, em geral, a patronal tem vantagem inicial na sua luta contra os trabalhadores: eles podem aguentar mais tempo e eles têm a lei do lado deles.
Na passagem seguinte nosso autor acrescenta que os patrões têm o parlamento ao seu lado. Ele deixa claro que graças ao capital que acumularam, eles podem aguentar mais tempo que os trabalhadores em um conflito.
“Não temos leis no parlamento contra a associação para baixar o preço do trabalho; mas temos muitas contra a união para aumentá-lo.”
Nas citações que seguem, descobrimos que o que Adam Smith escreveu na década de 1770 não está muito distante do que Karl Marx e Friedrich Engels vão escrever 70 anos depois, no famoso Manifesto Comunista.
De acordo com Adam Smith, o trabalhador, portanto, cria valor… sem que isto custe nada ao capitalista. “Embora o manufatureiro (ou seja, o operário) receba do patrão seus salários adiantados ele na realidade não lhe custa (ao capitalista) nada, o valor de salários são geralmente recuperados com o lucro, no valor aumentado do objeto trabalhado”
Ele acrescenta: “o trabalhador fabril geralmente adiciona ao valor dos materiais sobre os quais ele trabalha, o valor de sua subsistência e o lucro do patrão”.
Você leu bem: Adam Smith afirmava que o trabalho realizado pelo trabalhador cria o lucro do patrão. Aqui estamos a cem léguas ou mesmo a anos-luz de distância do conto de fadas capitalista que conta Macron, em particular, e os defensores do sistema capitalista, em geral. Segundo eles os capitalistas criam tanto valor como os trabalhadores, senão mais.
Agora Adam Smith e Karl Marx consideram que os empregadores não produzem nenhum valor. É o trabalhador que produz.
O trabalhador, portanto, cria valor… sem custo para o capitalista: “Embora o manufatureiro (ou seja, o operário) receba do patrão seus salários adiantados ele na realidade não lhe custa (ao capitalista) nada, o valor de salários são geralmente recuperados com o lucro, no valor aumentado do objeto trabalhado”. É uma fórmula um pouco complexa, mas, de todas as formas, é clara.
O que motiva o capitalista segundo Adam Smith
“A consideração do seu próprio lucro privado é o único motivo que determina o proprietário de qualquer capital a empregá-lo na agricultura, em manufaturas ou em alguma filial particular do comércio atacadista ou varejista”.
Aqui Adam Smith explica que o capitalista procura apenas seu próprio lucro. Segundo Smith o capitalista não se importa se seu capital será ou não utilizado na atividade produtiva de seu país e o importante é que seu dinheiro traga ainda mais dinheiro.
Smith vai mais longe: “as diferentes quantidades de trabalho produtivo que ele pode colocar em movimento e os diferentes valores que ele pode adicionar ao produto anual da terra e do trabalho da sociedade, de acordo como é empregado de maneiras diferentes, nunca entra em seus pensamentos”
Se parafrasearmos a última frase de Smith ele escreve em preto e branco que jamais entra na mente do capitalista o cálculo de quanto os seus investimentos colocaram o trabalho produtivo em atividade em seu país.
Adam Smith considera que existem três classes sociais fundamentais:
1- a classe dos proprietários de terra que vivem da renda
2- aquela que vive dos salários
3- a classe capitalista que vive dos lucros
Adam Smith identifica, a sua maneira, a consciência e os interesses dessas três classes sociais.
“Toda a produção anual da terra e do trabalho de qualquer país, ou o que vem a ser o mesmo, todo o preço daquele produto anual, naturalmente se divide, como já foi observado, em três partes; o aluguel da terra, o salário do trabalho e os lucros do capital; e constitui uma receita para três ordens diferentes de pessoas; para aquelas que vivem de renda, para aquelas que vivem de salário e para aquelas que vivem de lucro. Estas são as três grandes, originais e constituintes classes de toda sociedade civilizada, de cuja renda qualquer outra classe deriva seu último resultado.”
Falando da classe dos rentistas, ou seja dos proprietários de terras, Adam Smith afirmava: “É a única das três classes, que sua renda não lhe custa trabalho, nem cuidados, mas vem a eles, por assim dizer, por conta própria e independente de qualquer plano ou projeto próprio. Essa indolência, que é o efeito natural da facilidade e segurança da sua situação, torna-os, demasiado frequentemente, não apenas ignorantes, mas incapazes dessa aplicação mental que é necessária para prever e compreender as consequências de qualquer regulação pública.”
Então ele fala sobre a classe que vive de salários. Ele argumenta que o interesse dessa classe está diretamente relacionado ao interesse geral da sociedade. Mas, diz Smith, a classe assalariada é tão burra pelo trabalho e tão desprovida de educação que não é capaz de entender o interesse geral ou mesmo seu próprio interesse. Os de cima só ouvem quando o clamor popular serve aos interesses de uma parte dos capitalistas.
O interesse da segunda classe, aqueles que vivem de salários, está tão estritamente ligado ao interesse da sociedade quanto o da primeira. (…) Mas, embora o interesse do trabalhador esteja estritamente relacionado com o da sociedade, ele é incapaz de compreender esse interesse ou de entender sua conexão com o seu. Sua condição não lhe dá tempo para receber as informações necessárias, e sua educação e hábitos são simples, de modo a torná-lo incapaz de julgar, mesmo estando plenamente informado. Nas deliberações públicas, portanto, sua voz é pouco ouvida e menos considerada, exceto em algumas ocasiões em particular, quando seu clamor é animado, conduzido e apoiado por seus empregadores, não para o benefício dos trabalhadores, mas para seus propósitos particulares.”
Finalmente, ele descreve a classe dos capitalistas e afirma, sem colocar luvas, que o “interesse particular” dos capitalistas “é sempre (…) diferente e até contrário ao do público” !!!
“Seus empregadores constituem a terceira ordem, a daqueles que vivem do lucro. É o capital que é empregado em prol do lucro, que movimenta a maior parte do trabalho útil de toda sociedade. Os planos e projetos dos empregadores de capital regulam e dirigem as operações mais importantes do trabalho, e o lucro é o fim proposto por todos esses planos e projetos. […] Comerciantes e fabricantes-mestres são, nesta ordem, as duas classes de pessoas que geralmente empregam os maiores capitais, e que, por sua riqueza, atraem para si a maior parcela da consideração pública. Como durante toda a sua vida eles estão envolvidos em planos e projetos, eles têm freqüentemente mais agudeza de compreensão do que a maioria dos senhores do país (…) No entanto, o interesse particular daqueles que exercem um determinado ramo de comércio ou manufatura é sempre, em alguns aspectos, diferente e até contrário ao do público.”
Em seguida, Smith concentrou sua descrição sobre os capitalistas que se especializam no comércio e que buscam se aliar para evitar a competição e assim poder subir os preços aos consumidores:
“O interesse do comerciante é sempre ampliar o mercado e restringir a concorrência dos vendedores. A ampliação do mercado pode coincidir com o interesse público, mas a redução da competição sempre está contra dito interesse, e só serve para que os comerciantes, ao elevar seus lucros acima do seu nível natural, imponham, em benefício próprio, um imposto absurdo aos seus concidadãos.”
Smith adverte sobre os projetos de lei que vêm dos capitalistas especializados no comércio porque têm “interesse em enganar o público”:
«A proposta de qualquer nova lei ou regulamento de comércio que venha dessa classe deve sempre ser recebida com grande precaução, e nunca deve ser adotada até depois de ter sido longa e cuidadosamente examinada, não apenas com os maiores escrúpulos, mas com a atenção desconfiada. Ela vem de uma ordem de homens cujo interesse nunca é exatamente o mesmo com o do público, que geralmente tem interesse em enganar e até oprimir o público, e que consequentemente, em muitas ocasiões, tanto o enganou quanto o oprimiu ”.
Também encontramos em Smith outros juízos que dão urticária aos governantes e ideólogos que reivindicam sua herança: “Nossos comerciantes reclamam com frequência dos altos salários da mão-de-obra britânica como a causa da dificuldade de suas manufaturas serem vendidas em mercados estrangeiros, mas são silenciosos sobre os altos lucros do capital. Eles reclamam do ganho extravagante de outras pessoas, mas não dizem nada de seus próprios. Os altos lucros dos capitais britânicos, no entanto, podem contribuir para elevar o preço das manufaturas britânicas em muitos casos tanto, e em alguns talvez mais, do que os altos salários do trabalho britânico.” Essa afirmação seria uma heresia para o patrões atuais, que fazem com que os custos salariais – sempre altos demais em sua opinião – sejam responsáveis pela inflação e pela falta de competitividade.
Esses elementos são muito mais essenciais no pensamento de Adam Smith do que a famosa mão invisível (que ele menciona apenas três vezes em seu trabalho) e, por causa de seu caráter eminentemente perigoso para a ordem capitalista, são sistematicamente silenciados pelo pensamento econômico dominante.
Um dos pontos em comum entre Smith e Marx é que eles analisam a sociedade em termos de classes sociais. Uma das diferenças fundamentais entre Adam Smith e Karl Marx é que o primeiro, embora ciente da exploração à qual o patrão submete o trabalhador, apoia os patrões, enquanto o segundo é pela emancipação dos trabalhadores.
O preâmbulo dos Estatutos da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), escrito por Karl Marx, expressa a substância de sua posição:
“Considerando:
Que a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores;
Que a luta pela emancipação da classe trabalhadora não é uma luta para constituir novos privilégios e monopólios, mas para estabelecer para todos os mesmos direitos e os mesmos deveres e a abolição de todos os regímenes de classe;
Que a sujeição econômica do trabalhador aos detentores dos meios de trabalho — ou seja, às fontes da vida — é a causa fundamental da servidão em todas as suas formas: miséria social, degradação intelectual e dependência política;
Que, portanto, a emancipação econômica dos trabalhadores é o grande objetivo ao qual deve-se subordinar todo movimiento político como um meio;
Que todos os esforços feitos até agora fracassaram, por falta de solidariedade entre os trabalhadores das diferentes profissões em cada país, e pela ausência de uma união fraternal entre os trabalhadores dos diversos países;
Que a emancipação dos trabalhadores não é um problema local ou nacional, mas, ao contrário, é um problema social, que afeta a todos os países onde exista uma sociedade moderna; e dependendo, para sua solução, da assistência, prática e teórica, dos países mais avançados;
Que o movimento que ressurge entre os trabalhadores dos países mais industrializados da Europa, ao despertar novas esperanças, adverte solenemente para que não se caia em antigos erros, e chama à imediata articulação de todos os movimentos ainda isolados;
Por estas razões, a Associação Internacional dos Trabalhadores foi fundada.
Declara:
Que todas as sociedades e indivíduos que aderem a ela reconhecerão a verdade, a justiça e a moralidade como a base de sua conduta para com o outro e para com todos os homens, sem levar em conta a cor, o credo ou a nacionalidade;
Que não reconhece direitos sem deveres, nem deveres sem direitos.
Para concluir: este chamado é de uma ardente atualidade.
–
[1] Eric Toussaint é um historiador e cientista político que completou seu Ph.D. nas universidades de Paris VIII e Liège, é o porta-voz do CADTM International e participa do Conselho Científico da ATTAC França.
É autor de diversos livros, entre eles: Bancocracia Icaria Editorial, Barcelona 2015,, Procès d’un homme exemplaire, Ediciones Al Dante, Marsella, 2013; Una mirada al retrovisor: el neoliberalismo desde sus orígenes hasta la actualidad, Icaria, 2010; La Deuda o la Vida (escrito junto con Damien Millet) Icaria, Barcelona, 2011; La crisis global, El Viejo Topo, Barcelona, 2010; La bolsa o la vida: las finanzas contra los pueblos, Gakoa, 2002. É coautor junto com Damien Millet do livro “AAA, Audit, Annulation, Autre politique”, Le Seuil, París, 2012. Coordenou os trabalhos da Comissão da Verdade Sobre a Dívida, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou entre abril e outubro de 2015. O novo presidente do Parlamento grego anunciou sua dissolução em 12 de novembr de 2015. Apesar disso, a comissão prosseguiu seus trabalhos e se constituiu legalmente como uma associação sem fins lucrativos sin afán de lucro.
[2] Adam Smith. 1776. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations
[3] Aqui está a famosa citação sobre a ação da mão invisível na qual ele se refere à ação do capitalista: “Ele, na verdade, não pretende promover o interesse público, nem sabe o quanto está promovendo isso. Ao preferir o apoio do mercado interno ao da indústria estrangeira, ele pretende apenas sua própria segurança; e dirigindo aquela indústria de tal maneira que seu produto pode ser do maior valor, ele pretende apenas seu próprio ganho, e ele está nisso, como em muitos outros casos, liderado por uma mão invisível para promover um fim que não era parte de sua intenção. E isso nem sempre é o pior para a sociedade, que esse fim não entra em suas intenções. Enquanto procura apenas o seu interesse pessoal, ele muitas vezes trabalha de uma forma muito mais eficaz para o interesse da sociedade, do que se ele realmente pretendesse trabalhar lá.” Livro IV, Capítulo 2, 1776. Na realidade, a metáfora da mão invisível ocupa um lugar marginal na visão de mundo de Adam Smith à medida que a desenvolve na Riqueza das Nações. Ainda assim, é necessário ter o trabalho de ler seu trabalho para perceber isso!
[4] Adam Smith, Livro I, Capítulo 8, p. 137 et 138. As seis citações seguintes vêm da mesma passagem do livro.
[5] Imposto sobre valor agregado (Nota do Tradutor)
[6] Adam Smith, Livro I, p. 417.
[7] Adam Smith, idem. Esta citação, traduzida em termos marxistas significa que o trabalhador reproduz durante seu trabalho o valor de uma parte do capital constante (ou seja, dos meios de produção — a quantidade de matérias primas, de energia, a fração do valor da equipamento técnico utilizado…— que entram na produção de uma determinada mercadoria) ao qual se agregam o capital variável correspondente ao seu salário e o lucro do patrão, chamado por Karl Marx, de mais-valia.
[8] Adam Smith, Livro I, p. 417
[9] Adam Smith, Livro 1, Chapter 11, Parte 3. As citações seguintes também vêm dessa parte do Livro I.
[10] Adam Smith, op. cit. Livro I, Capítulo XI. Conclusões.
[11] Adam Smith, op. cit. Livro IV, Capítulo 7, Part 3.
[12] Isto é verdade para Alan Greenspan, por exemplo, que em sua autobiografia “The Age of Turbulence”, publicada em 2007, dedica sete páginas de louvor a Adam Smith, enquanto “purifica” seu pensamento de qualquer referência ao trabalho assalariado como fonte de lucro, à teoria do valor do trabalho ou à luta de classes (Alan Greenspan, 2007, p. 338-344).
[13] A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), conhecida como a Primeira Internacional, foi fundada em 1864. Nela participaram Karl Marx e Friedrich Engels. Ali se encontravam coletivistas antiautoritários (a corrente internacional de Mikhail Bakunin), coletivistas marxistas, mutualistas (partidários de Pierre-Joseph Proudhon) e outros. Colaboraram conjuntamente militantes políticos, sindicalistas e cooperativistas. A AIT se dividiu depois da derrota de la Comuna de París.
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