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Uma saudação ao vitorioso levante popular no Equador

“¡Que viva la resistencia, carajo!
¡De los pueblos y comunas, carajo!
¡Bloqueando muchos lugares, carajo!
¡Consiguimos el respeto, carajo!”
– Canção da resistência indígena contra o paquetazo


O coletivo Subverta saúda a vitória das irmãs e dos irmãos equatorianxs que, após quase duas semanas de heróico levante, conseguiram um recuo do governo de Lenín Moreno e a revogação do decreto 883, um pacote de danosas medidas de austeridade. A mobilização e sua vitória devem ser tomadas como exemplo para enfrentar o novo avanço do neoliberalismo na América Latina.

O governo de Lenín Moreno, eleito como um governo que aprofundaria a plataforma progressista, mas limitada, de Rafael Correa, vem acatando diretrizes de austeridade imputadas pelo FMI como condicionante de novos empréstimos. Essas diretrizes neoliberais acarretaram no decreto de 1º de Outubro, denominado como “paquetazo”, que ditava a redução do tempo de férias de 30 para 15 dias por ano, a redução de salários e o fim de subsídios à gasolina e ao diesel que aumentaram em até 120% o preço dos combustíveis, dentre outras medidas.


Nós do Subverta defendemos a necessidade de acabar com os subsídios à indústria fóssil, mas não defendemos que o povo pague a conta por isso! Entendemos que encerrar o subsídio estatal aos combustíveis fósseis será fundamental para enterrar essa indústria de morte. Contudo, isso precisa ser feito mediante uma política justa, com compensações para os preços dos alimentos, transportes públicos, instituição de taxas/impostos sobre carbono redistributivos, plano de financiamento de energias, cadeias produtivas de baixo carbono etc. O FMI e outras instituições, como o Banco Mundial, estão adicionando ao seu receituário de morte esse tipo de remédio “verde”, vendendo-o como política ambiental. No fundo, não resolvem a crise climática e ainda instauram um nível inédito de expropriação dos expropriados. A nossa transição ecológica passa por defendermos a expropriação dos expropriadores.

A resposta do povo equatoriano foi quase imediata. A partir do dia seguinte, o movimento indígena do país, com importante protagonismo da CONAIE (Confederación de Nacionalidades Indígenas del Ecuador), puxou o levante que envolveu dezenas de milhares de indígenas, campesinos, estudantes e trabalhadores das mais diversas categorias.

A união popular pedia o fim do paquetazo, do acordo com o FMI, a revogação das privatizações e o fim do extrativismo de petróleo e da mineração em territórios indígenas. Passou também a pedir a saída de Lenín Moreno, fazer o chamado para novas eleições e exigir o fim da repressão. Os corajosos e criativos insurgentes ocuparam ruas, estradas, cidades, plataformas de petróleo, sedes do governo e de conglomerados midiáticos; capturaram e cooptaram policiais e militares; declararam estado de exceção nos territórios indígenas; formaram uma rede de solidariedade com centenas de cozinhas comunitárias etc.

Moreno, já considerado traidor e estelionatário eleitoral, mostrou-se também covarde e autoritário desde as primeiras reações ao levante. Exército e polícia foram empregados para uma duríssima repressão dos protestos e ocupações; foi declarado um estado de exceção e proibição de manifestações no país; meios de comunicação progressistas foram interditados e tirados do ar; o próprio Moreno espalhou uma nuvem de notícias falsas para deslegitimar o levante e então fugiu da capital, com medo das marchas e na intenção de melhor reprimi-las.

Os aliados de Moreno e do FMI fizeram seu sujo papel: a mídia hegemônica nacional e internacional operou um verdadeiro bloqueio midiático, invisibilizando a luta equatoriana que tinha um caráter anti-liberal claro. Donald Trump e seus presidentes neoliberais de estimação na América Latina (incluindo o brasileiro) se uniram para apoiar Moreno e condenar os insurgentes. O resultado desses atos foi brutal: até o momento, pelos dados da Defensoria del Pueblo, sabe-se que 7 pessoas foram assassinadas, 1340 foram feridas, 1152 foram presas, além de centenas de desaparecidos.

O povo não recuou diante do avanço da barbárie e no dia 13 de Outubro conseguiu que Moreno desse um passo atrás. O decreto 883 foi revogado e a repressão cessou, dando fim aos protestos e início a uma fase de negociação. Essa fase trará novos desafios à resistência equatoriana, mas se inicia a partir de uma importante vitória popular, exemplo para a luta anticapitalista latino-americana e mundial.

No Brasil sob Bolsonaro, a vitória dos nossos irmãos e irmãs equatorianxs é especialmente animadora em um momento em que as medidas neoliberais, nossos pacotaços iniciados nos últimos governos e expandidos no desgoverno atual, empurram o povo para a miséria, enquanto o extrativismo exacerbado ameaça os povos da floresta e o próprio futuro da humanidade.

Seu sucesso mostra, acima de tudo, que “Sí, se puede”, que a luta popular, nas ruas e nos territórios e o enfrentamento contra as forças hegemônicas pode sim mudar a vida, pode sim barrar o retrocesso e pode sim vencer, mesmo sob dura repressão e inúmeras adversidades. Também mostra a importância dos povos indígenas na luta anticapitalista, que em nosso continente jamais pode ser ignorada. Mostra ainda quão rápido governos que se elegem sobre plataformas ditas progressistas e democráticas podem se voltar à barbárie contra seu próprio povo à primeira vista de insurgência contra a ordem neoliberal.

Por isso, o Subverta, coletivo revolucionário, ecossocialista e internacionalista, cumprimenta o povo equatoriano em levante por sua vitória. Como coletivo que busca construir uma sociedade do Bem Viver e que para essa empreitada deve muito aos indígenas do Equador, nos solidarizamos com a luta equatoriana e lutamos para que essa vitória se some a muitas outras. Que seja mais uma no caminho da criação de uma América Latina ecossocialista e de um mundo livre da exploração, das opressões e da destruição do planeta. E al carajo com os fascistas e neoliberais!

Colocamos nossas energias militantes, nossas vozes, nossxs parlamentares, nossa solidariedade internacionalista à disposição do povo equatoriano!
Por uma saída independente, do povo indígena, da juventude e dos trabalhadores. Contra a intervenção do FMI e pelos direitos de todos os povos!

Que esses levantes se espalhem por toda a América Latina!!! Aonde houver violência, seremos resistência!
¡Sí, se puede!

Subverta – Coletivo Ecossocialista e Libertário

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