Greve Geral de 28 de abril: mais confiança para enfrentar os desafios que permanecem
Por Rodrigo Teixeira*
O dia de 28 de abril ficou marcado por um importante movimento construído em torno de uma frente única que englobava diversas entidades, movimentos e organizações. Tendo como centralidade a realização de uma ampla Greve Geral, podemos avaliar que o resultado foi positivo e que, de fato, ocorreu uma relevante paralisação das atividades na circulação de pessoas e mercadorias nos grandes centros urbanos.
A paralisação das atividades diretamente produtivas, ao que tudo indica, foi ainda incipiente. Mas que balanço pode fazer deste movimento? Para avançarmos na organização de ações futuras, um importante passo é construirmos critérios de análise que possam nos guiar na construção do balanço do movimento atual, e das potencialidades e desafios que permanecem.
O debate em torno de números e quantidades de grevistas (se esta foi “a maior greve geral da história do país”) traz para o terreno quantitativo algo que, em sua essência, é qualitativo. Se, por um lado, o tamanho de uma greve deve ser medido através da quantidade de membros que pararam, por outro, sua força tem relação também com o apoio que esse movimento consegue ter para além do seu “núcleo duro”, se pode ou não ter forças parar continuar a enfrentar as causas que motivaram a sua eclosão.
Nesse caso, a Greve Geral de 28 de abril conseguiu ampliar a resistência em torno dos ataques mais recentes do governo golpista de Michel Temer (Reforma da Previdência, Trabalhista e terceirização) e angariar maior apoio em torno de uma base social que, apesar de não ter participado diretamente do movimento, defende a sua legitimidade. A mídia corporativa e os partidos da ordem tentarão de toda forma conduzir uma narrativa explicativa que culpabiliza o próprio movimento pelo “caos” do país, disputando tanto os setores que podem, de forma ativa, construir um enfrentamento às mobilizações, quanto desmotivar aqueles que por ele tem simpatia.
Nesse aspecto, a tentativa de certos setores de subordinar a pauta das mobilizações a um calendário eleitoral, como também de utilizá-las como forma de “publicidade” é uma demonstração de fraqueza. As organizações e partidos devem ser apenas “formigas” desse grande “formigueiro” chamado greve de massas, com humildade e solidariedade, sem pretensões dirigistas ou auto-proclamatórias. Nenhuma organização “dirige” ou “decreta” uma greve de massas. Como nos lembra Rosa Luxemburgo: “a greve de massas nem é “fabricada” artificialmente nem “decidida” ou “difundida” no éter imaterial e abstrato, é tão somente um fenômeno histórico resultante, num certo momento, de uma situação social a partir de uma necessidade histórica.(1)”
Temos que ter a clareza que este é um movimento ainda em curso. Como nos lembra, novamente, a revolucionária alemã: “é absolutamente falso imaginar a greve de massas como ação isolada. A greve de massas é antes um termo que designa globalmente todo um período da luta de classes que se estende por vários anos, às vezes por décadas.(2)” Em certo sentido, podemos avaliar que estamos num novo período da conjuntura no qual foi transferido diretamente para o amplo movimento de mobilizações das massas a percepção da possibilidade sobre vitórias ou derrotas para a classe.
Os ecos de Junho de 2013, das mobilizações da juventude e do movimento de mulheres continuam a fortalecer essa perspectiva, num momento em que ainda grande parte dos grupos dirigentes busca alternativas meramente institucionais. Assim, o movimento de greves e mobilizações de massa deve servir ao fortalecimento da independência de classe e da auto-organização dos trabalhadores e seus aliados.
É importante destacar também que este movimento pode impulsionar outros processos de mobilização que estão para além da luta contra as Reformas. Mesmo as categorias e movimentos que não fizeram parte do movimento atual podem vir a participar no futuro, seja da luta direta contra as Reformas, como também em greves e mobilizações com uma diversidade de pautas. Assim, precisamos ficar atentos para os possíveis desdobramentos em outros terrenos da luta de classe.
Por fim, é de grande importância destacar dois outros fatores: em primeiro lugar, a participação muito relevante de setores religiosos, em especial da Igreja Católica, em apoio às mobilizações. Se, por um lado, um setor fundamentalista se mobiliza em prol das pautas neoconservadoras, a reconstrução de uma perspectiva libertadora no interior do cristianismo é vital na perspectiva de qualquer movimento realmente de massas organizado pela classe trabalhadora brasileira.
Em segundo lugar, o aparente aumento da repressão, tendo como exemplo marcante o ocorrido no Rio de Janeiro, nos coloca novos desafios sobre a organização dos movimentos de rua, como também de qualificação política do período histórico em que nos encontramos, tanto do ponto de vista da forma organizativa do regime político em vigor, como também do programa que conduz a hegemonia agora proposta pelos setores dirigentes das classes dominantes. A superação da antiga hegemonia social-liberal pode estar colocada em prol, do ponto de vista dos dominantes, de uma hegemonia liberal de novo tipo, que busca construir um novo consenso ativo a favor da retirada de direitos e do conservadorismo político-moral. Não apenas desmobilizar o “outro lado”, mas construir novas fileiras que atuem ativamente no seu enfrentamento, buscando sua eliminação política e física.
O desafio de derrotar as Reformas Previdenciária e Trabalhista se mantém. Estamos mais fortalecidos, mas os desafios continuam. Sem ufanismos auto-proclamatórios que menosprezam a difícil conjuntura que enfrentamos, poderemos coletivamente organizar a nossa classe e aumentar a força de sua resistência.
Luxemburgo, Rosa. Greve De massas, Partido e Sindicatos. In: Bogo, Ademar. Teoria da organização política. São Paulo: Expressão popular, 2005. Pág 249
Idem, ibidem. Pág 281
*Rodrigo Teixeir é professor da Rede Municipal de São Gonçalo e na Faculdade de Educação da UFRJ
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